sábado, 30 de outubro de 2010

Fragmentos de Memória

A minha memória é como um grande vaso que foi atiirado de uma janela. As peças estão todas lá, umas grandes, outras pequenas, outras desfeitas em pó. Quando tento unir as peças, juntando uma recordação à outra, partes da história tornam-se claras e lúcidas, mas sobram muitos espaços em branco e tempo perdido. O meu primeiro dia de escola ? Desapareceu. As férias em família ? Nada. O meu livro preferido ? Quando é que apredi a andar de bicicleta ? Momentos impossíveis de encontrar entre as longas sombras negras que se estenderam por toda a minha infância.
Detestava ir para a cama à noite e ter pesadelos, despertar um dia mais velha. Às vezes sentia-me como uma sombra que desaparecia quando o sol despontasse sobre os telhados.
Os dias e os meses passaram. O jardim mudou de cores no final do Verão. Os presentes de Natal foram cuidadosamente comprados e trocados com uma emoção artificial. O episódio especial de Natal da telenovela foi transmitido.
Outro aniversário. Catorze. Nalgumas culturas, eu seria uma mulher. Sinto-me como uma mulher. Sinto-me como uma criança. Sinto-me como um bebé. Tenho sentimentos diferentes em momentos diferentes e não tenho ideia de como devo sentir-me e que sentimento pertence ao eu que sou eu.
Estava a viver na minha cabeça, a punir o meu corpo, a correr, ao que parecia, em círculos, sem chegar a lugar algum.
Era o meu "eu" que eu estava a tentar encontrar. Por vezes fechava os olhos e fingia que era outra pessoa com a missão de explorar os corredores do meu cérebro em busca de respostas para enigmas obscuros, a origem e o significado dos meus sonhos, que estavam cada vez mais lúcidos, menos fragmentados, os escertos do filme a encaixarem-se numa narrativ
a.

-I can't remember who I am :'

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